terça-feira, 16 de março de 2010

ENXADA DE BRONZE, CANETA DE OURO


Aos oito anos de idade,
no dia do meu aniversário
ganhei do meu pai
uma enxadinha de presente.
Era uma ferramenta impar,
jeitosa, novinha em folha,
cheirando a tinta.
Orgulhosamente mostrava a todos
aquela ferramenta
meio de brinquedo,
meio de verdade.

A minha amiga
era uma relíquia rara.
Às vezes em pleno
feriado escolar
ensaiava ao lado de meu pai
a arte milenar de capinar.

Gostava tanto da minha enxadinha!
Ninguém podia relar a mão nela.
Ai daquele que colocasse a mão no cabo dela
já arrumava uma tremenda confusão.
Antes do anoitecer,
lá estava eu com a minha enxadinha
trocando confidências.
Éramos tão amigos!...
Tínhamos lá os nossos segredos.
Não via à hora de crescer
e de me tornar rei da enxada.
Era como se ela me aconselhasse
a levar a sério os estudos,
ser alguém na vida:
Um doutor,
um professor
e por quê não
um poeta?

A minha amiga estava certa,
mas eu era teimoso!
O que eu mais queria
era ser um lavrador
de mãos calejadas,
um puxador de cabo de enxada
Igualzinho o meu pai.

Era como se ela me dissesse:
_ Pobre menino!...
Isso não dá futuro,
larga de ser tolo!...
A vida de lavrador
é muita luta,
muito suor
e pouco pão.

Aos doze anos de idade,
também no dia
do meu aniversario
ganhei pela segunda vez do meu pai
uma enxada de verdade...
Adeus escola!...
Adeus professora!...
Adeus coleguinhas estudantes!...
Troquei o caminho da escola
pelo caminho da roça.

O sol queimava
a minha cabeça,
o suor molhava
as minhas roupas.
As minhas mãos
foram ficando
grossas de calo.
O matagal não parava
de crescer no cafezal.
No eito, só mato que tombava,
eu era mesmo bom de enxada.

Aos poucos fui me esquecendo
de tudo que aprendi na escola.
Aquela vida de lavrador
era osso duro de roer.

Aos dezoito anos de idade
dei meu grito de liberdade.
Chutei pro alto
todas as enxadas do mundo!
Troquei o campo pela cidade,
como um caipira do mato
retomei o caminho da escola.
Troquei a enxada pela caneta,
que foi a minha salvação.

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