domingo, 14 de março de 2010

NOITES NA CAPELA


Aos sábados e domingos lá na roça
quando céu se enfeitava de estrelas
tocava o sino da capela.
Em seguida,
entrava no ar
o serviço de alto-falante
da capela de Nossa Senhora de Fátima
apresentando aos ouvintes
uma programação de músicas variadas.

Como sempre
era mais uma melodia
que ondulava melancolicamente
pelas quebradas dos morros.
No repique da viola
a música contava uma história
de um amor fracassado
ou de um amor traído.

No frenesi contagiante da roça
ajuntava num segundo
um imenso povaréu.
_”Essa música que vamos ouvir
fulano oferece para cicrana
com provas de muito amor e carinho...”
Enquanto a música tocava
os jovens se assanhavam
no vai e vem das mocinhas.
Os rapazes formavam duas fileiras
e as prendas preciosas desfilavam no meio.
Os mais atirados faziam gracejos
tentando chamar atenção
da morena que tinha
um corpo de violão
que passava toda faceira...

Pela segunda vez
o sino da capela tocava...

A multidão aumentava.
os moleques safados
atiravam carrapichos
nas saias das mocinhas.
As mulheres fofocavam
pelos cantos da capela.
Os homens contavam causos
nos bancos da barraca.
Os namorados disputavam
os lugares escuros
e lá trocavam juras de amor.

O sino da capela
pela terceira vez tocava...

Neste momento sai do ar
o serviço de alto-falante
da Capela de nossa Senhora de Fátima
prometendo voltar,
assim que a reza terminar...

Por alguns segundo,
o silencio era total.
Cada um tinha o seu lugar certo.
Os velhos ocupavam os bancos da frente,
os jovens ficavam pelos fundos...
O mais engraçado
é que se conhecia a tosse de cada um.
As roupas eram sempre as domingueiras.

Para variar,
antes da reza do terço começar,
o pobre sacristão
ficava as turras
com os cachorros vira-latas.
Que arreganhavam os dentes
ameaçavam morder...
Arre, que trabalho danado,
para expulsar a matilha pulguenta do templo!

O terço era uma eterna rotina.
ficava fervoroso na ladainha e no canto final...
A fé dos fiéis se agigantava,
como cantavam as Filhas de Maria!...
Como cantavam os Congregados Marianos!...

Depois em menos de um segundo
a capela ficava vazia...
_ Retorna ao ar o serviço de alto-falante
da Capela de Nossa Senhora de Fátima...

Novamente a poeira levantava,
era festança na roça...
O tio Manecão,
o velhote e fanfarrão
agitava a criançada.
O amalucado Pipa
suava em bica,
correndo atrás do Indé...

Lá pelas tantas, antes da meia noite,
compadres e comadres se despediam,
entre abraços e apertos de mãos
a última canção tocava.

Neste momento, sai do ar
o serviço de alto-falante
da Capela de Nossa Senhora de Fátima
prometendo voltar no sábado que vem.

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