quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

GUERRA FRIA


Como as pombas
que retornam ao pombal.
Como as cigarras que cantam até morrer.
Assim era minha palpitante rotina
e meus mimosos anos bailavam maneiros
desdenhosos, como altivos verões,
no céu de mansas andorinhas.

Nem sabia,
mal podia imaginar
que nos bastidores
da política universal
traçavam-se os destinos
da humanidade.

Era eu e os que comigo conviviam
espécies singelas de rara inocência.
amávamos com ninguém o nosso rincão.
Até que, transfiguraram-se os crepúsculos
das minhas tardes matreiras e pueris.
Em tudo se liam os rumores
de novos tempos funestos.
Até nos lábios dos tios preferidos
desenhavam-se as ruínas e os horrores
da Terceira Guerra Mundial
que seria o fim da humanidade.

Lá eu queria saber sobre:
capitalismo,
socialismo,
satélites artificiais,
bombas nucleares...

Lá eu queria saber
se Estados Unidos
e União Soviética
eram inimigos mortais...
Se na minha terra
éramos todos iguais...

Lá eu queria saber sobre:
Subdesenvolvimento,
alta tecnologia,
alta produtividade,
indústria de ponta,
era da informática,
em que onda andava o mundo,
pois a minha terra
era tão bela
revestido pelo verdes cafezais...

Ah! Como tinha rima e poesia
naquelas noites estreladas.
Da relva mística orvalhada
decolavam-se para os sonhos marotos
milhares de pirilampos atrevidos.
Ao som de um violão plangente
um caboclo mal amado,
lamentava as suas mágoas
diante do sorrateiro luar prateado...

Jamais poderia aceitar
que os monstros do capitalismo
e do socialismo
tivessem a ousadia
de mudar a paisagem de minha terra
que era uma preciosidade Divina.
Era o meu berço,
meu abençoado lar...
As riquezas brotavam
dos morros arredondados.
Das mãos calejadas dos roceiros
comia-se o maná da vida.

Não!...
Eu não era a única criança
a desfrutar daquele paraíso,
havia um exército de meninos,
todos armados de estilingues nos pescoços,
estávamos prontos para a guerra...

Mais que guerreiros eram nossos
céus e terras encurralados
naquele encantado horizonte
que morria com desdém
nas cristas dos morros.
Na mira de olhares inocentes
os nossos asseiose
ra o de perpetuar os sonhos.

Também aprendi
nos meus mimosos anos
que sem Deus,
sem religião,
sem pátria,
sem família
torna-se o homemo pior dos animais.

Na minha terra abençoada
a vida jorrava em abundância.
Uma alegria contagiante
misturava-se com bandos
de borboletas coloridas...
Se as borboletas
buscavam nas flores uma doce vida...
Eu buscava no meu bairrismo
uma razão para não acreditar
no poder destruidor
das malditas aramas nucleares!...

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